quarta-feira, novembro 18

Ficção de 2080


Dizer que estou sem tempo, não respiro direito, ando com dois livros de baixo do braço e não passo da página 50, que só ouço um cd na minha cabeça, e estou mais em débito com as pessoas do que em crédito, seria clichê. Estamos todos assim.

Um vislumbre do que poderia ser nosso futuro.

Era um outdoor onde se lia; “Aula de formação artística” - O mundo estava repleto de novas banalidades.

Hoje, aqueles com traços limpos e corretos demais devem tomar aulas para poluí-los e assim saber errar de forma artística.

Se seu traço é infantil, não quer dizer que ele tem cheiro de novo, que ainda não está corrompido, puro e pronto para se deixar influenciar por quem ele preferir. Não. Quer dizer que não há mais espaço para você e seu traço nesse mundo sujo, onde as coisas que são feitas de forma errada são os exemplos a serem seguidos.

Há aulas de música agora, só que para erros de acordes, para os dedos aprenderem a gaguejar, e a se sentirem inseguros na presença de um bom público.

Hoje são os rascunhos que ganham espaço nos jornais e são lidos, livros não são mais revisados. Uma massa incrível de editores demitida pelas ruas.

Uma sociedade não polida, e nem ao menos envernizada, ergueu-se pelos nossos pés e sobre nossas cabeças. Sem ser passada a limpo, cheia de erros e uma péssima caligrafia.

No passado diriam que isso poderia nos transformar em mais verdadeiros e sinceros, mas o que acontece é que estamos mais imperfeitos e cortados. Sujos e manchados.


Devemos receber calorosamente a nova autora do blog; Beatriz F. Oliveto que estará aqui as sextas. Seja bem vinda.

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