quinta-feira, outubro 29
Los Musicos Rotos
Não era minha intenção inicial assistir ao novo filme de Almodóvar na Mostra, uma vez que vai entrar em cartaz em algum momento, mas não tive muita escolha. Bastou conseguir um dos disputados ingressos para que a minha paixão pelos filmes do diretor falasse mais alto.
Apesar de ter gostado bastante, Los Abrazos Rotos não é meu filme favorito de Almodóvar. É divertido, bonito, muitíssimo bem feito, mas o roteiro não é o mais genial da carreira do diretor. De qualquer forma, não quero criticar (nem positiva nem negativamente) a obra além do que devo. Se você gosta de Almodóvar, assista, pois vale à pena, mas não precisa ser agora. Espere entrar em cartaz no circuito (evitando filas, transtornos desnecessários e aproveitando para ver outros filmes da Mostra que não vão entrar em cartaz).
Essa semana não tem sido fácil. Muitos ensaios, curtas e pouco tempo de sono...
Segunda-feira foi dia de OMB. Pra quem não sabe, a OMB (Ordem dos Músicos do Brasil) é a entidade responsável, entre outras coisas, por selecionar, defender e fiscalizar o exercício da profissão de músico no país. Em outras palavras, toda a burocracia que envolve ser um músico legalizado e registrado no Brasil é responsabilidade da OMB.
De qualquer forma, hoje em dia é bom ser registrado e ter a Carteira Definitiva do Músico Prático. Muitos bares e casas noturnas vem pedindo esse documento aos integrantes das bandas que lá tocam, uma vez que, se músicos não forem registrados, a casa pode vir a tomar uma multa das grandes (caso apareça algum fiscal).
Para tirar a tal Carteira, é preciso ir à sede da OMB-SP (no centro da cidade) e fazer uma prova de conhecimentos práticos. No meu caso (guitarra e bandolim), a "prova" aconteceu da seguinte forma:
Avaliadora da OMB (velha mal comida) - "Rafael Baptista".
Entro na sala de exame (cheia de instrumentos velhos e mal-cuidados, entre os quais estão dois violões cujas cordas mais parecem arame farpado).
Velha - "Você trouxe bandolim?"
Eu - "Não. Não sabia que precisava trazer..."
Velha - "E como é que você quer fazer a prova então?"
Eu - "Ah, achei que vocês tivessem aqui e..."
Velha (interrompendo) - "Pega o violão e senta aí."
Pego o violão (com cuidado, para não pegar tétano nas cordas enferrujadas) e sento na cadeira. A velha risca "bandolim" da minha lista de instrumentos e olha para mim.
Eu - "É pra guitarra, viu?"
Velha - "Sim, eu sei."
Ela continua a olhar sem dizer nada.
Eu - "É pra tocar qualquer coisa?"
Velha - "É... Sei lá... Você consegue fazer um solo aí?"
É aí que eu paro e penso: "O que diabos eu vim fazer aqui?"
Eu (indignado) - "Sim..."
Velha - "Então vai."
Eu faço um solo curtinho, de improviso.
Eu - "Tá bom?"
Velha (indignada) - "Só isso? Não... É muito pouco... Improvisa aí."
Eu continuo a improvisar toscamente no violão desafinado e caindo aos pedaços, enquanto a velha conversa com a mulher ao lado. Pouco tempo depois, acabam minhas idéias de improviso e minha paciência.
Velha - "Ok. Agora é só pagar a taxa lá no guichê e esperar eu te chamar pra assinar."
É isso? SÓ ISSO? Com esse sistema de avaliação, qualquer um pode se tornar músico!
Pois é. Parabéns. Você é um músico.
Se você quiser ver se o meu esforço valeu à pena, é só aparecer no Blackmore no domingo (dia 1/11) e conferir o show dos Cosmonautas! O Blackmore Rock Bar fica na Al. dos Maracatins, 1317, Moema e a entrada custa R$ 12,00.
(na foto, três das minhas maiores paixões: cinema, café e Penélope Cruz)
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Estamos no mesmo barco, hauahua. Se com jornalismo for assim, eu vou ficar bem brava.
ResponderExcluirAh, Almodóvar...
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