terça-feira, junho 29

Eu trabalho de Domingo.

Tudo bem que eu poderia parar meu post por aqui, vocês fariam um minuto de silêncio por mim, consolariam-me, dariam brigadeiros para eu não entrar em paranóia e tudo acabaria bem.
Mas hoje, não é essa a minha principal reclamação. O fato é que eu trabalho no restaurante dos meus avós há três anos, de Domingo, e tenho muita coisa para contar, porque acreditem, não é um emprego normal.
Não vou começar a discorrer sobre tudo. Vou direcionar meu texto e o foco dessa vez é:

TIPOS DE CLIENTES (e suas façanhas)

Sim. Porque eles surpreendem. Eles enervam. Eles divertem. Eles podem ser divididos em grupos.

Para vocês entenderem melhor o drama, aí vai uma rápida explicação sobre em que consiste meu trabalho: O esquema é tipo Spoleto, ou seja, o cliente monta sua própria massa. Eu sou a mocinha que coloca a massa no prato e depois na água quente e que coloca os ingredientes que ele escolher na frigideira. Só isso. Só isso? É o bastante, obrigada.

Tipo 1. Madrugador
Esse é aquele que chega cedo. Antes de mim. Antes do Venâncio (Sim, o nosso fogão tem um nome). Daí ele fica lá, horas esperando, contentando-se com porpetones e pão italiano. Quando a gente chega, ele fica ligadão, seguindo a gente com os olhos, enquanto preparamos as coisas. Sinto-me como uma lasanha. Não tiro a razão dele como cliente, ele foi lá, ele quer comer. Mas eu tiro a razão dele como pessoa, afinal QUEM ACORDA CEDO EM UM DOMINGO? Quando ele me vê colocando a luva, ele levanta, como quem não quer nada. Começa a rodear. Eu finjo que não vejo, afinal, eu já to puta da vida às 11am. Quando eu vou atendê-lo, ele já está tão ansioso que eu sinto que o momento mais feliz do dia dele é quando eu profiro a frase: “Bom dia, qual é a massa?”

Tipo 2. A criança
Eu estremeço quando elas chegam. Eu sei que vai dar merda. Umas já chegam colocando a mão no macarrão cru e comendo assim mesmo. Outras ficam mudas e as mães insistem que elas escolham o que elas querem. Dá vontade de falar: Minha senhora, se eu for ter que esperar tua filha abrir a boca pra falar que ela quer calabresa, me avisa que eu vou ler meu livro. Mas as piores são aquelas decididas, independentes, faladeiras. Elas já começam pecando na quantidade. Qualé, eu sei que uma criança não come muito. Um macaco treinado da NASA sabe. Então eu coloco pouco achando que né, ela não vai perceber, ou vai achar normal, mas não. Criança esperta é um inferno. Ela diz: “Não tia, eu quero mais”. Eu coloco. “Mais”. Eu coloco mais um fio de espaguete. “MAIS”. O prato transborda e eu começo já a pensar em dar uma lição de moral naquela criaturinha sobre crianças na África e afins.
Tem aquelas que não comem. Elas só ficam uma hora e meia ao lado do fogão, vendo meu pai tirar fogo do macarrão e gritando: IIhulllllllllll!!! Yes!!! Legal!!! E dando aqueles gritinhos fininhos que só os cachorros ouvem. Resumindo: NÃO SEI LIDAR.

Tipo 3. Os cegos
Não aqueles que têm cegueira mesmo. Mas aqueles que não sabem muito bem interpretar a imagem de um tomate seco, então eles perguntam: Isso é tomate seco? E eu: É. Até aí tudo bem, mas temos quase quarenta condimentos. Ele faz isso com pelo menos 70% deles. Agora, se fosse só eu ficar falando: É. É. Isso mesmo. Aham. Ok... Mas tem aqueles que chegam e falam: “Que que isso aqui?” Vou confessar agora, que, nesse momento, eu também tenho uma crise de interpretação, afinal, que que isso aqui o quê, meu filho? Os potinhos? Você quer saber o que se faz com isso? Você quer saber pra que servem, no que a gente usa? “Não moça, quero saber o que são” Todos? Você não sabe o que é nada? Desculpa mas, está meio que na cara que isso é azeitona... “É, todos.” E lá vai a camela aqui, falar o nome de quarenta comidas. Só que tem uma coisa: Quando eu começo, eu termino. Não importa que ele me interrompa, eu falo o nome dos quarenta. Não deixo ele falar. Nisso eu já estou vermelha e sem ar de raiva.

Tipo 4. O Jonas
Ele está sozinho no grupo. Porque ele é o Jonas. Ele chega, fala oi e como se já soubéssemos o que temos que fazer diz: "Já sabe, né? Hoje é talharine." Ok, eu não sabia, mas.... O que ele espera é que façamos a massa dele, que guardemos ou adivinhemos o que ele quer, que levemos na mesa para ele, tudo isso em meio à uma fila gigantesca. Ou seja: É humanamente impossível. Daí, né, a gente esquece. Então ele vem, cortando a fila, o que é um ultraje lá no restaurante (velhinhas de oitenta anos esperam pacientemente) e fala: E aí, cadê meu macarrão? Nesse momento que eu sei que eu me fodi, porque eu sei que o meu pai vai virar e falar: Faz o macarrão do Jonas. Querido papai, eu já teria feito se 1. EU SOUBESSE O QUE ELE QUER COMER (Vai que eu coloco azeitona e o cara é alérgico? E me desculpa, mas não sou obrigada a decorar o prato que o cara faz, NÃO SOU OBRIGADA nem que ele viesse todo Domingo) e 2. Ele pegasse a fila (ele não paga a mais, ele não tem problema nas pernas. Não existe razão para que ele não pegue a fila)

Tipo 5. As namoradas
Eu poderia falar dos casais em geral, mas eles não são o problema, eles não me irritam. O que me irrita é um tipo específico de namorada: Aquela sem opinião. Quer dizer, ela não sabe o que ela quer comer. Aliás, ela sabe: Ela quer comer o que ele quer que ela coma. Tipo: Manda em mim, amor. Chega a vez dela, eu pergunto “Qual é a massa?”, o semblante dela se torna desesperador. Ela fica quinze minutos olhando os tipos de macarrão. Eu espero, olhando para as pessoas atrás dela na fila do tipo: Vocês estão vendo que é ela que tá demorando. Então ela resolve tomar uma atitude muito madura: “Ai mô, faz pra mim”. Percebe-se que o cara bufa por dentro. Ele não tem paciência, ninguém tem né, vamos combinar. Ele começa: “Ah, põe... Põe salsinha, cebola, queijo... Põe aí....” Só falta falar: “Que se foda seu macarrão, amor, eu quero é comer o meu e só.” Esse é o tipo de preparo que demora uns cinco minutos, no mínimo.

Bom, existem mais zilhões de tipos, e eu vou colocando. Pode ser que esteja surgindo uma nova série.
Lembrando que “Gambiarras de vovô” não está extinta! Tenho muitas novidades.

Ah, para vocês entenderem bem como funciona, vai o link da propaganda do meu restaurante: http://www.youtube.com/watch?v=q-OUgohe-ik

terça-feira, junho 15

Efeito futebol.

O “efeito futebol” é algo que devia ser estudado por sociólogos e cientistas políticos em geral, pois é a erupção cutânea como sintoma da doença que assola o país. O sintoma da irresponsabilidade política-social, do comodismo e principalmente do oportunismo capitalista que mostra em época de copa do mundo, com todas as forças, como é importante manter a ignorância entre as massas populares de analfabetos e miseráveis e atacar os mais instruídos e abastados que já não possuem um senso crítico político-social.

Torcer sempre fez parte da cultura mundial. Sempre houveram disputas esportivas ou hostis entre tribos, cidades, países, bairros. E sempre existiu e ainda existe os que abraçaram a causa, os que vêem a dignidade e justiça de seu “território” em jogo. É o instinto humano.

E é puramente instintiva a febre histérica que toma conta dos bares e das ruas do Brasil nas copas do mundo. Ou não? É estranho, sim, ver locutores falarem que “o patriotismo brasileiro surge com força total na época dos campeonatos mundias de futebol”, uma vez que ninguém viu esse patriotismo surgir em forma de protesto e torcida quando a bolívia tomou hostilmente as instalações da Petrobrás, a maior estatal do país. É estranho, sim, pois quando FHC estava no poder, ouvia-se resmungos de que ele estava “vendendo” o Brasil. Mas quando o Brasil é dado, ninguém resmunga.

Deixando a política de fora, é também muito estranho presenciar a total falta de patriotismo quando somos atacados nos alicerces da dignidade nacional por enormes grupos de políticos corruptos que compram uns aos outros, surbornam, roubam o dinheiro do povo e voltam para casa impunes em seus carros importados.

Contudo nessa época de copa, vemos pessoas faltando ao trabalho, se embebedando no meio da tarde, no meio da semana, em exaltação e comemoração por ver o time brasileiro vencer uma reles partida futebol. O Brasil se paralisa para ver vinte homens correrem atrás de uma bola. Talvez aí esteja o problema: “O futebol é o ópio do povo”, e assim, é o fator mais importante nas vidas vazias daqueles que, sem perspectiva, levam um campeonato de futebol como o que há de mais importante, uma questão de vida ou morte – e esses são uma parcela considerável, talvez a maioria do brasileiros. Até o presidente se mete em “fofocas” transmitidas via satélite com jogadores.

Talvez quando a copa passar, e mesmo se o Brasil ganhar, quando a população perder essa estrutura patriótica – a copa – e for obrigada a voltar para seu trabalho mal-remunerado, enfrentar as filas e se vitimar nos labirintos da burocracia burra e da corrupção, descubra que existe algo mais para torcer e gritar. Ou talvez não. Continuarão estáticos e inativos até a próxima copa.

Nada contra torcer e se emocionar em uma partida. Afinal é o país sendo representado em uma disputa. Uma tribo desafiando a outra. O que realmente deixa tudo isso estranho é que somente 20% da população sabe a letra do hino nacional e raramente se vê uma residência com uma banderia brasileira hasteada em dias “normais”. E mais raramente ainda o brasileiro luta para que o Brasil seja destaque mundial, saia da categoria “terceiro mundo” e finalmente tenha justiça social.

Eu não sou patriota, não torço para futebol. E todo esse fenômeno popular em época de copa pode ser chamado do que for, mas de patriotismo não. Isso não.

sexta-feira, junho 11

Propaganda Básica

Sim, deve fazer uns 2 meses que eu não apareço por aqui.
Tenho bons motivos.
Muito trabalho nessa vida dura...

Aproveitando o momento, aqui está o teaser do curta-metragem no qual eu venho trabalhando (e a principal razão por eu não ter postado em dia).

Fiquei muito feliz quando, no dia 07, o vídeo atingiu mais de 500 exibições e foi o 6º mais assistido em sua categoria no Brasil.

Não dá pra ver muito bem aqui, mas no Youtube fica show de bola (apesar de eu ter exportado numa qualidade ridícula).



Au revoir, Shoshanna!

terça-feira, junho 8

Братья Карамазовы



































Não deixa de ser uma meia verdade.

domingo, junho 6

Old Deuteronomy?

Ok, sou fã nato de musicais e todos sabem. Canto mesmo, sei todas as músicas, coreografias, conheço o nome dos diretores, escritores e atores e estou sabendo de todas as peças que virão pro Brasil até 2013.
Para tanto, preciso ir ver todas as produções nacionais possíveis, e a de hoje foi CATS. Antes de tudo, saibam que já assisti o DVD com o melhor elenco já feito umas 7632 vezes e já tinha visto uma produção americana que tinha vindo para o Credicard Hall faz uns anos.
E olha, que orgulho dos brasilerinhos, viu?
A produção em si está impecável, como é de costume nas montagens da T4F, já que eles copiam cada poeira das montagens internacionais. A peça é fofíssima, como o esperado, e é muito difícil não se encantar com aquelas milhares de luzes piscando, e vinte gatos cantando e pulando durante 2h seguidas. Mas fiquei muito impressionado com a qualidade e o carisma do elenco: talentosíssimos, como era de se esperar, mas muito carismáticos. Para quem não sabe, em boa parte da peça os gatos passam pela platéia, falam com as pessoas, fazem gracinhas, enfim. Todos estavam tão à vontade, já dominando muito bem a peça a ponto de no intervalo eles liberarem o palco para a platéia visitar e conversar com o Saulo Vasconcelos (old Deuteronomy), não contentes, houve até um "ola" geral na platéia comandado pelo mesmo gato (genial!).
Claro que as crianças foram a loucura. Por sinal, achei uma montagem com um apelo infantil muito forte. E sim, achei isso bom, afinal é uma peça sobre gatos onde não acontece nada de muito concreto, então deixar as crianças felizes é uma boa.
Sobre a parte tensa (leia-se: a presença da Paula Lima) tive a sorte de ir a tarde e, portanto, assistir com a substituta (como tenho feito desde Miss Saigon). Adorei, Memory foi lindo e minha mãe até chorou. As traduções as vezes são um pouquito toscas, como: "Run Tun Tugger é um gato esquisito" (???), mas nada de trumatizante. Percebe-se porém, que Toquinho passou uns 3 meses fazendo Memory e 15 mnutos com músicas como "The old Gumbie Cat".
Mas saibam que o saldo foi bem positivo. Muito melhor que a versão que estava em tour mundial. Talvez pelo fato dos atores estarem acostumados com o teatro, ou pela presença de alguns nomes de peso no elenco. Muito bom, mesmo.
Acho que o uníco probelema é que CATS só pode ser assistido por quem gosta MUITO de musical, pois é tudo que a Broadway pode ser na vida, ou seja, entertainment puro. Não, você não vai sair transformado ou querendo reler todos os livros de filosofia contemporânea que você possui em casa, mas é sempre bom ver esse tipo de superprodução que enche os olhos.
Aliás, mesmo qeu você queira ser cult, vá ver. E depois, compre as edições completas dos poemas do T. S. Eliot e tente não lê-los com o ritmo das músicas da peça.

quinta-feira, junho 3

"Chacolando"

Permiti-me postar hoje porque eu duvideodó que o Rafael irá.
Mesmo com nossa situação medíocre com este blog, estamos ganhando seguidores! Já são 8! Muito (o)brigada senhores
Agora vamos arrumar isto aqui, começando pelo Carelli, querido, você continuará por aqui ou não?



Agora vamos "chacolar" como diria minha avó boa, ou seja "conversar". Não sei o porquê dela associar uma coisa a outra, em alguma língua "chaco" é falar? Ou algo parecido? Não sei mesmo.

Pois é, preciso finalizar neste feriado dois seminários de temas interessantíssimos, Xenofonte - "A retirada dos dez mil" e "Se deus existe" - Teologia. E quem disse que consigo? Nada. Vou morrer na internet hoje até a madrugada.

Operei ontem. Saíam dessa. Vou contar a história; Sábado lá estava eu na aula de Teologia feliz e contente, tchurururu e AH!! Um pedaço de madeira entrou na minha coxa! - Eu estava de meia-calça. Doeu, ai. Fui no banheiro, beleza sangue, tirei, tudo bem.
Ficou uma marca de sabado para domingo, mas segunda-feira... Ahhhh o que é isso? Uma bola, não muito grande, vermelha, com uma pequena pontinha escura e doendo bastante. Vou superar, que venham as pomadas...
Terça de noite decidi ir ao hospital, a mulher me passou na frente de 2hs de espera, olhei para minha mãe; "Vou morrer. É isso. Só pode ser um tumor, por que ela passou a gente na frente?!" "Acho que você vai mesmo filha, ou é AIDS, é AIDS? Você tem se prevenido?" "Tá mãe, chega agora. Não é AIDS, mas olha vai preparando as minhas coisas, porque olha, eu já era".
Bom, o médico me deu um remédio e falou que eram bactérias.
Quarta; dor insuportável. Decidimos em ir numa médica específica de pele e tals, cheguei. Ela olhou. Vamos operar isso agora.
Sentei na mesa da suposta cirurgia rápida e fácil; "Olha moça, não vou olhar porque eu tenho agonia, e eu não gosto de anestesias, então seja legal." "Sem problemas".
Sem problemas o caramba! Primeira anestesia, morri em litros e litros, ela enfiou a agulha no meio do negócio que já doía muito. Ai ela me fala: "Ai não" e eu "Ai não o quê??" - de olho fechado. "É muito maior do que eu pensava, a anestesia está voltando, vou ter que aplicar mais".
Resultado: Seis agulhadas incrivelmente brutais em mim.
Okay, ela cortou e começou a espremer. Eu pensei, se tem anestesia não vou sentir. Mentira de novo. A maior dor que eu já senti na minha vida, pode ser que não seja muito para alguns de vocês se já tiveram pedra no ruim, cancer, sei lá, mas foi.
Doeu muito. A assistente me começa: "Meu deus, ah não, meu deus! Como você está aguentando isso? Nunca vi tanto... oh!" eu: "Moça, sério. Eu já to gritando, já to morrendo, para!"
Resultado; minha medicação que era para ser um comprimido transformou-se em dez, chorei horrores no carro - claro, eu não ia chorar lá né - Eu entrei para a história da clínica, to enfaixada, já devia ter tirado o curativo, mas estou com medo.

E essa parte de Um Violinista no Telhado, me fez muito feliz ontem.

terça-feira, junho 1