terça-feira, junho 15

Efeito futebol.

O “efeito futebol” é algo que devia ser estudado por sociólogos e cientistas políticos em geral, pois é a erupção cutânea como sintoma da doença que assola o país. O sintoma da irresponsabilidade política-social, do comodismo e principalmente do oportunismo capitalista que mostra em época de copa do mundo, com todas as forças, como é importante manter a ignorância entre as massas populares de analfabetos e miseráveis e atacar os mais instruídos e abastados que já não possuem um senso crítico político-social.

Torcer sempre fez parte da cultura mundial. Sempre houveram disputas esportivas ou hostis entre tribos, cidades, países, bairros. E sempre existiu e ainda existe os que abraçaram a causa, os que vêem a dignidade e justiça de seu “território” em jogo. É o instinto humano.

E é puramente instintiva a febre histérica que toma conta dos bares e das ruas do Brasil nas copas do mundo. Ou não? É estranho, sim, ver locutores falarem que “o patriotismo brasileiro surge com força total na época dos campeonatos mundias de futebol”, uma vez que ninguém viu esse patriotismo surgir em forma de protesto e torcida quando a bolívia tomou hostilmente as instalações da Petrobrás, a maior estatal do país. É estranho, sim, pois quando FHC estava no poder, ouvia-se resmungos de que ele estava “vendendo” o Brasil. Mas quando o Brasil é dado, ninguém resmunga.

Deixando a política de fora, é também muito estranho presenciar a total falta de patriotismo quando somos atacados nos alicerces da dignidade nacional por enormes grupos de políticos corruptos que compram uns aos outros, surbornam, roubam o dinheiro do povo e voltam para casa impunes em seus carros importados.

Contudo nessa época de copa, vemos pessoas faltando ao trabalho, se embebedando no meio da tarde, no meio da semana, em exaltação e comemoração por ver o time brasileiro vencer uma reles partida futebol. O Brasil se paralisa para ver vinte homens correrem atrás de uma bola. Talvez aí esteja o problema: “O futebol é o ópio do povo”, e assim, é o fator mais importante nas vidas vazias daqueles que, sem perspectiva, levam um campeonato de futebol como o que há de mais importante, uma questão de vida ou morte – e esses são uma parcela considerável, talvez a maioria do brasileiros. Até o presidente se mete em “fofocas” transmitidas via satélite com jogadores.

Talvez quando a copa passar, e mesmo se o Brasil ganhar, quando a população perder essa estrutura patriótica – a copa – e for obrigada a voltar para seu trabalho mal-remunerado, enfrentar as filas e se vitimar nos labirintos da burocracia burra e da corrupção, descubra que existe algo mais para torcer e gritar. Ou talvez não. Continuarão estáticos e inativos até a próxima copa.

Nada contra torcer e se emocionar em uma partida. Afinal é o país sendo representado em uma disputa. Uma tribo desafiando a outra. O que realmente deixa tudo isso estranho é que somente 20% da população sabe a letra do hino nacional e raramente se vê uma residência com uma banderia brasileira hasteada em dias “normais”. E mais raramente ainda o brasileiro luta para que o Brasil seja destaque mundial, saia da categoria “terceiro mundo” e finalmente tenha justiça social.

Eu não sou patriota, não torço para futebol. E todo esse fenômeno popular em época de copa pode ser chamado do que for, mas de patriotismo não. Isso não.

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