segunda-feira, maio 17

Porque na minha familia, nada pode ser normal

Se eu contar, ninguém acredita.

Tirei o dia para fazer coisas que estavam atrapalhando o andamento da minha vida. Faltei na aula e comecei a reger meus atos estritamente baseando-me na lista que tinha feito no dia anterior. Logo, minha agenda, minha melhor amiga. OK. Não fiz metade do que eu tinha para fazer, mas disso eu já sabia.

O fato é: eu ainda estava com zilhões de coisas para fazer, tentando fazer três ao mesmo tempo, afinal o dia já estava terminando (como sempre), quando eu ouço lá debaixo:
- Nanáaaaaaaaaaaaaaaaa, vem aqui! – era o meu irmão.
- Agora não dá.
- Naná! Por favor, eu preciso muito que você venha aqui!!! – ERA O MEU IRMÃO, portanto, bem não urgente.
- Já já.
- Tem que ser agora!!! – Aham, tem que ser agora para você me mostrar uma borboleta saindo do casulo na TV Cultura. Não, não vou.
- Espera aí! Tô fazendo outra coisa!!
- Nana, é sério. Você tem que vir aqui agora. PELAMORDEDEUS!!!!! – A voz dele estava ficando chorosa, e eu me preocupei.
- Pra quê?

Ele ficou em silêncio. Quem sabe ele não precisava mesmo de mim?? Dane-se, se ele precisasse mesmo, ele viria até aqui. Depois de uns dois minutos:
- NANÁAAAA VEMAQUIPELOAMORDEDEUS!!!! EUPRECISOMUITODEVOCÊ!!!
Levantei em um salto e corri, tudo isso inconscientemente. Não tive tempo e frieza de pensar e quase cai nas escadas.
Cheguei na cozinha, ele:
- Meus cabelos estão caindo.
Quando eu olhei, o cabelo dele estava todo falhado de um lado, quase careca, mas extremamente desigual. Levei um soco imaginário, pensei: Meu Deus! Uma doença, só pode. Eu tremia, não conseguia fechar minha boca. Comecei a passar mal e me debrucei sobre a mesa.

Aquele FILHO DA PUTA vendo tudo isso soltou: É brincadeira, tava tentando cortar meu cabelo, mas não to conseguindo.

E EU COM ISSO???? SEU...SEU...
Pra quem não sabe, o cabelo do meu irmão era assim:
Nesse momento eu descobri que meu autocontrole não só existe, como também é eficaz e abundante. Afinal, meu irmão ainda está vivo. E com os membros. Gritei durante vinte minutos, sem respirar. Sou irmã mais velha, então ainda tenho um pouco de autoridade para com ele, que ouviu de cabeça abaixada tudo o que eu estava falando “em voz altíssima”. Mas eu e ele sabíamos que eu não conseguiria deixá-lo: 1. Naquele estado até meus pais chegarem 2. Continuar fazendo merda atrás de merda. Arranquei a tesoura da mão dele e comecei um incessante trabalho de igualar as partes mais compridas, tomando cuidado para não deixá-las curtas demais.... Até pezinho eu fiz. Gente, na boa, se eu tivesse que chutar algo que eu nunca teria que fazer na minha vida, eu chutaria pezinho, no entanto, lá estava eu fazendo um pezinho (pra quem não sabe, é tipo a costeleta.)

Terminado a parte da tesoura, chegara a parte da maquininha. É bom lembrar que depois dos vinte minutos gritando, eu não parei de falar, resmungar e xingar. O que eu mais falava era: Você me deve dez cravos!!! Vinte! Cem cravos, cem!! (Só quem sabe sobre a minha obsessão por espremer cravos que entende, bom, agora todos.)

Mas era chegado momento: Barulho do portão, cachorro ficando agitado. Porta abrindo, passos na escada... “O que é esse monte de cabelo no chão??? Cadê a Nathália???”
Claro, porque eu sou a pessoa na casa que costuma cortar e modificar o próprio cabelo. Mas nunca coloquei em prática a ideia de raspar – não que eu já não tenha pensado nisso.
“Natháliaaaaaa...” Sério, eu não aguento mais ouvir isso. “Cadê vo...” quando minha mãe me viu, o semblante dela mostrou calma. Ufa, não foi dessa vez. Mas logo outra ideia assombrou a mente dela novamente: “O que aconteceu por aqui??”
Tudo bem que meu irmão podia ter saído do banheiro a acabado de vez com essa agonia, mas a verdade era que ele estava cagando de medo.

Eu sou uma irmã boazinha, mas não tinha como ele esconder por mais tempo: “Vem cá ver o Rafael.” Ela olhou. Virou. E saiu. Só escutamos da cozinha: “Deixa só o teu pai ver.”
Pensa em uma frase de impacto, que sempre caiu como uma bigorna nas nossas cabeças. Então, é essa. E é pior ainda quando vem seguida de: “Ver o quê??” Proferida pelo próprio. Ok, meu pai é legal. É compreensivo, não briga, não bate, não dá castigo. “Não gostei” Foi só o que ouvimos. Ok, melhor assim.

- Mas pai, você ficou bravo comigo?? – Esse era o meu irmão no melhor estilo “Volta o cão arrependido, com suas orelhas tão murchas, sou osso roído e seu rabo entre as patas”
- Eu não gostei. Estou chateado.
CHATEADO. Meu Deus, se eu fosse meu irmão, não aguentaria isso. Trancaria-me no quarto chorando por dias. Meu pai chateado: não há coisa pior. Mas essa é uma neura minha.

A novela ainda está acontecendo. Meu irmão já quis ligar para a minha tia (Oi tia, raspei o cabelo e... Boa noite). Eu vou fazer chantagem com os cravos dele para o resto da vida. Meu vô não cansa de falar que, agora ele é homem. Minha mãe acha que foi aposta. Minha avó acha que está curto demais (mas eu acho que ela nem prestou muita atenção, afinal CLARO QUE ESTÁ CURTO DEMAIS, ELE RASPOU!!). O Snic tenta mordê-lo (Calma, Nic, é o Rafa! – Nada feito.)
E esse é ele, agora, no meu quarto. (E esse quadro sempre sai nas fotos porque é o lugar onde ele sempre fica conversando comigo, quando não é bem-vindo em nenhum outro cômodo da casa)
Enfim, quero só ver quando for eu a raspar o cabelo, coisa que eu me prometo desde a oitava série.

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