domingo, novembro 1

Quanto mais a gente procura, mais a gente quer procurar.


Receio que esse blog esteja ficando um tanto “familiar” demais devido aos meus posts e os da Ba. Mas eu tenho que contar a história que uma sopa rala de frango (minha avó desaprendendo a cozinhar) rendeu na hora da janta. Achei a relato de como meus avós se conheceram bem bonito, nada demais. Se vocês procurarem saber, a história dos seus avós é bem legal também, enfim, senta e escutaê.

(Os ditos cujos)


Coragem homem!

- E aí vô, como você chegou na vó?
“Nem me alembro”
Eu queria muito descobrir como era a primeira palavra da paquera no passado, nem venha me dizer que era: “E ae, broto?” porque não era. Era feio fazer isso.
- Você lembra vó?
“Claro que eu lembro.”
Claaaro. O fato é que minha avó passava todos os dias, para ir à escola onde trabalhava, na frente da quitanda onde meu vô chupava laranja. Vejam só que sedutor. Hoje, ela (e toda a família) briga quando ele chupa laranja. Eu não sei como ela pôde gostar daquilo, sinceramente.
Ele morava algumas casas a frente da dela, e ficava na varanda, tomando arzinho. E ela indo trabalhar. Sério, só podia ser de propósito que ela passava tanto assim na frente dele.
- Tá vó, mas como vocês começaram a se falar??
“A mãe dele gostava de mim.”
Ela dizia que minha avó era uma boa moça, trabalhadora. Convenhamos né, se ela não passava de propósito então ela era muuuito trabalhadora mesmo, porque toda e qualquer paquera rolava assim.
Meu vô sempre foi cara de sinuca, de cerveja. Isso nos remete a um garanhão, bonitão, que fica olhando sem vergonha nenhuma e comentando alto com os amigos de bar. Sim, esse era ele, e até eu o achei muito bonito na foto que ele estava com 20 anos. Ou seja, o metelão da vila.
Tá, pode até ser, mas ele tinha um problema: não conseguia chegar.
- Como assim vô, você tinha vergonha?
“Ah! Eu tinha. E também eu não sabia qual escoiê.”
Segundo eles, muitas meninas davam em cima dele. Mas assim, em cima mesmo. Não eram que nem a minha avó que só ficava olhando. Essas meninas iam no bar, jogar conversa fora, o que na época era uma super dada de mole. Mas mesmo assim, a velha dificuldade surgia. Meu vô podia falar qualquer coisa para elas, que elas iam, na hora. Mas ai é que tava, ele não falava nada.
- E você acabou escolhendo como??
“Teu vô tirou no papelzinho.”
“Ahhhhhh, é verdade. Isabel, agora cê me amostrô lembrança, heim! Cê me amostro memória! Foi isso mesmo, tirei a letra p”
Não, não era para vocês entenderem. Eu mesmo indaguei:
- Que p?
“P de professora”
O fato foi que um dia, ele e os amigos dele tiveram uma grande idéia: Sortear. Já que o amigo supostamente metelão não desencalhava, estava ficando feio para eles.
Elas eram em quatro:
p – Professora, minha avó. Ele achava que ela era professora, pq ela ia para escola toda arrumada, mas na verdade ela era servente...
f – Forte. Era uma morena boazuda que ia lá. Ele diz que ele só colocou ela pq ela era gostosa, tinha tudo grande.
i – Ida, vizinha dele. Colocou pq era uma das únicas mulheres que ele conversava, e só conversava porque era vizinha de muro. Provavelmente, só ela falava.
A outra ele tentou lembrar durante meia hora, não conseguiu. A minha avó ficou feliz.
Tirada a letra p, faltava agora o maior desafio: Ir à porta da escola.
Mas você sabe, essas coisas têm de ser feitas e como o meu vô, palavras dele: “Nasceu nu e tá vestido”, foi lá resolver a parada.
- E qual foi a primeira frase que você falou pra ela??
“Num me alembro, já disse.”
Nenhum dos dois lembrou ao certo. Mas também, depois de tudo isso, minha dúvida não seria esclarecida. Eu queria saber como as pessoas geralmente faziam essas coisas, e depois de conhecer toda a crise do meu avô, percebi que qualquer frase não faria parte do “geral” que eu queria saber. Mas eu queria mais.
- E onde vocês costumavam namorar?
“No aeroporto.”
Hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah

De primeira eu também ri. Mas sabe, eu amo ficar vendo avião decolar e aterrizar, fazer isso acompanhado é melhor ainda. Mas eles gostaram tanto, e era um prazer tão comum aos dois que eles fizeram disso um hábito. Conversar, namorar e ver avião. Achei o máximo.
No final da conversa os dois estavam com dor de cabeça.
Ah, e eles nunca viajaram de avião.

2 comentários:

  1. Força a cabeça de qualquer um, lembrar com tantos detalhes, algo que aconteceu há tanto tempo, e possivelmente com tão poucas palavras.

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  2. Hahahahahaha
    Nada como histórias de avós...

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